Escola e Prevenção da Violência Entre Jovens
A escola é um local de sociabilidade e convivência entre diferentes. Em seu espaço, circulam e relacionam-se estudantes, funcionários, professores, membros da direção e moradores dos bairros do entorno, de origens social, econômica, cultural e faixa etária distintas. Na escola, também são construídos e compartilhados identidades, saberes e valores definidores da construção da cidadania e da vida em sociedade.
Como consequência do encontro de diferentes, observa-se o surgimento de antagonismos que, transformados em conflitos, podem ou não assumir formas violentas. E, nesse ponto, o que chama a atenção e preocupa os pesquisadores, autoridades públicas, organizações não governamentais e, principalmente, aqueles que convivem diretamente com esse fenômeno é o alto número de casos de violência ocorridos nas escolas brasileiras, que atingem todas as camadas sociais, sendo os jovens, sobretudo, as principais vítimas e protagonistas.
A violência nas escolas está associada a múltiplos fatores, tanto internos (sistema de normas e regras, quebra dos pactos de convivência, desrespeito entre funcionários e alunos e vice-versa, ausência de um ensino mais qualificado, carência de recursos) como externos (agravamento das exclusões sociais, raciais e de gênero, perda de referencial entre os jovens, desestruturação familiar).
Por isso, as alternativas à violência instaurada nas escolas devem envolver diversas estratégias e atores responsáveis, ainda mais porque cada instituição convive com questões e dilemas específicos de sua própria realidade. Assim, os caminhos não devem se apoiar em receitas prontas ou em uma única solução capaz de resolver todas as demandas.
As respostas aos problemas tendem a se basear em estratégias exclusivamente reativas e repressivas, como o fechamento da escola, a instalação de câmeras, detectores de metais e outros mecanismos de vigilância e controle, além da solicitação, algumas vezes desnecessária, da presença policial. Tais medidas raramente se mostram eficazes para evitar a ocorrência de novos delitos e não promovem mudanças na forma como as relações estão estabelecidas no espaço escolar, gerando mais conflitos violentos e chocando-se com a concepção da escola: um espaço de todos, da democracia, da diversidade e da integração.
Na discussão sobre violência nas escolas, é comum buscar um único responsável pelo problema e, portanto, por sua solução: a escola culpa a família, a família diz o mesmo da escola, que por sua vez aciona a polícia ou utiliza recursos repressivos e baseados na exclusão para resolver os conflitos violentos e os casos de indisciplina. Se a violência é um problema tão multifacetado, por que delegar sua solução a uma única instituição? E por que esperar que essa solução seja pautada somente no fortalecimento do controle e da fiscalização, sem considerar a construção de uma cultura e de valores que estimulem a convivência pacífica e democrática na escola?
O fenômeno de violências nas escolas está associado a múltiplos fatores de ordem interna e externa.
Esta cartilha pretende contribuir para a reflexão sobre a relação entre escola e prevenção da violência entre jovens, acreditando que o espaço escolar é um lugar estratégico e privilegiado para se trabalhar na perspectiva da prevenção da violência. A escola pode ser palco de experiências de prática cidadã com enorme potencial para a formação de lideranças e a construção de formas pacíficas de relação social e de promoção dos direitos.
Para tanto, esta cartilha fornecerá subsídios conceituais e práticos que possam:
- abordar os principais conflitos e manifestações de violência existentes nas escolas,
- discutir as principais relações estabelecidas entre os diferentes atores escolares (instituição, estudantes, professores, direção e equipe técnica, funcionários, família e comunidade) e as responsabilidades no desenvolvimento de ações de prevenção da violência e convivência pacífica nas escolas,
- fazer recomendações e sugerir estratégias e experiências realizadas em comunidades marcadas por altos índices de violência, pautadas na resolução pacífica de conflitos, no diálogo e na participação.
Assim, esperamos que as sugestões e práticas descritas contribuam para gerar ações e projetos de prevenção da violência e promoção da convivência pacífica nas escolas.
Fonte: Cartilhas Temáticas - Instituto Sou da Paz http://www.soudapaz.org/Portals/0/Downloads/Cartilha01ESCOLA_VsFINAL.pdf
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