domingo, 15 de abril de 2012

EDUCAÇÃO: Ciclos De Formação Em Educação

Ciclos De Formação Em Educação


A reorganização do tempo escolar está ligada a possibilidade de oferecer ao aluno uma melhor qualidade no seu desenvolvimento e desempenho escolar. De acordo com Lima, a reorganização temporal da escola em ciclos se insere em um processo de reavaliação.
A autora destaca que a persistência do fracasso escolar na escola pública, em países economicamente desenvolvidos, alerta para o fato de que a estrutura da instituição tem problemas sérios. Este é o caso do Brasil, mesmo sendo um país até economicamente desenvolvido sofre no sentido do fracasso escolar, apesar de que este grave problema não é só de ordem econômica, mas também histórica e cultural.
No entanto, estes problemas acabam afetando as metas educacionais e o nível de preparo da população em geral seja concretizado na escola. Até porque a escola é o meio pelo qual o indivíduo pode transformar-se e melhorar sua qualidade de vida.
A educação dentro das escolas precisa de uma reforma, precisa mudar. Atualmente, são levantadas questões que foram muito pouco mencionadas durante grande parte do século, como por exemplo, o caso da organização e gerência do tempo e do espaço na instituição escolar.
Por que trabalhar com o eixo do tempo?
Pouco se fala da questão do tempo, o qual já é determinado para cada aula. Isto é algo que vem historicamente e culturalmente implantado há muitos anos. Lima neste ponto do texto descreve:
A temporalidade da cultura escolar vigente está de tal forma internalizada, que o tempo, tal como ele está organizado, não é sequer lembrado nas discussões pedagógicas e nunca é seriamente questionado. (LIMA,p.4,1998).
Infelizmente, esta idéia de Lima citada acima é algo bem sério para refletirmos, pois muito se sabe que parte de discutir tal tema, mexe com a realidade de muitos educadores, ou seja, muitos estão acomodados, está bom do jeito que está, pra que mexer em algo que funciona? Questões como estas são indagadas por muitos professores.
Mas para outros educadores é ao contrário dos acomodados, ou seja, são profissionais comprometidos e preocupados em transformar a educação tradicional em algo diferente, sem se preocupar se sua aula vai acabar em 50 min., ou ainda, saber que poderão ficar mais de uma aula trabalhando determinado assunto, conteúdo, ou projeto. Isto está bem claro para a autora quando a mesma cita:
... mesmo quando não temos a intuição (ou a certeza) de sua inadequação: que falta tempo para ministrar uma matéria, que falta tempo ao aluno para assimilar algo e, principalmente, quando se quer realizar algo de forma diferente em sala de aula, mas não se pode, porque não há tempo. (LIMA,p.4,1998).
É preciso planejar a organização temporal de forma diferenciada, não podemos deixar a escola caminhar de forma tão tradicional. A inovação faz parte do dia-a-dia escolar, mas para que resultados brilhantes ocorram é necessário investir no tempo.
O que estamos presenciando há muitos anos é que a aula sempre é interrompida após os 50 min., isso faz com que o aprendizado do aluno naquele momento seja interrompido e mesmo quando o professor voltar na próxima aula para trabalhar tal conteúdo ou atividade, não será a mesma coisa.
A autora faz uma importante citação a respeito disso. Veja:
Se o objetivo da escola é promover a aprendizagem humana, o critério fundamental deveria ser a organização do tempo de forma que os indivíduos envolvidos sejam a prioridade e que, portanto, a concepção de tempo acompanhe os processos de aprendizagem e de ensino tal como eles ocorrem na espécie humana, evitando as rupturas criadas sempre que interrompemos uma explicação, uma atividade, um processo de reflexão por causa da forma rígida como o tempo é distribuído no dia-a-dia da escola. (LIMA,p.5,1998).
Percebemos então que quando uma atividade é bem planejada o desenvolvimento do aluno é eficaz, o problema a ser enfrentado é que quando o aluno está no auge de sua aprendizagem a aula é interrompida e segue com outra disciplina.
Do tempo rígido para o tempo flexível
Atualmente, tanto o tempo vivido no dia-a-dia, como o tempo subjacente nos documentos e em materiais escolares, é caracterizado por uma divisão rígida, ou seja, aulas com 40 a 50 minutos de duração.
De acordo com Lima:
A distribuição do tempo de uma matéria é constante durante todo o ano letivo e desconsidera que a construção de conhecimento, em uma determinada área, não acontece no ser humano com esta regularidade: há momentos em que se torna necessário dedicar em vez de 50 minutos a um assunto, ao menos 3 horas, para que se dê ao educando a possibilidade de completar o ciclo das atividades necessárias para construir o conceito. (LIMA,p.7,1998).
Sem dúvida alguma, sabemos que cada um tem seu tempo de aprendizagem, pode ser assim como a autora coloca na citação acima, que nem todo ser humano o conhecimento se dá com a regularidade de um tempo já determinado, ou seja, aulas de 40 a 50 minutos. Pode ser que para alguns alunos o aprendizado pode ocorrer assim como para outros não.
O que vem a ser ciclo de formação em educação?
A autora traz uma definição bem simples, clara e objetiva para compreendermos o que vem a ser o ciclo de formação, pois bem:
Ciclo de formação é conseqüência da reconceituação da escola como espaço para formação, não só de aprendizagem (...) não se trata, portanto, de justaposição de aprendizagens das várias áreas, mas concebe-se o conhecimento como parte integrante da formação humana, o que inclui, certamente, a dimensão ética da aquisição e uso do conhecimento. (LIMA,p.8,1998).
Educação por ciclos de formação é uma organização do tempo escolar de forma a se adequar melhor às características biológicas e culturais do desenvolvimento de todos os alunos. Aí vem uma citação da autora que por muitos é pensada desta forma, mas devemos ter cuidado e pensar que educação como ciclo de formação:
não significa portanto, dar mais tempo para os mais fracos, mas antes disso, é dar o tempo adequado para todos. (LIMA,p.9,1998).
Portanto, a idéia de ciclos confere ao processo de aprender o que é: um trabalho com conteúdos do assim chamado conhecimento formal, simultaneamente ao desenvolvimento de sistemas expressivos e simbólicos a formação.
Cronologia, calendário e desenvolvimento humano.
O ponto de partida para compreendermos este ponto que autora descreve, nada mais é, do entender que o ser humano tem seu desenvolvimento diferentemente das condições de cronologia e calendário seguidos na escola.
Cada ser humano, ou seja, cada aluno tem seu momento certo para ter seu desenvolvimento em relação a construção de um conhecimento. Não se pode trabalhar o calendário escolar sem levar em conta esta questão, sendo esta muito importante para verificar o desempenho do crescimento do educando.
Assim temos diante da idéia da autora que:
o processo de desenvolvimento do ser humano é de ordem biológica-cultural, se realiza segundo os parâmetros estabelecidos pela genética da espécie, e é função da cultura. (LIMA,p.11,1998).
Através desta citação acima, percebemos que os períodos de desenvolvimento, marcados por características distintas uns dos outros, primeiramente, não sejam regulares como a cronologia e calendário, que cada ano tem sempre 12 meses.
Princípios da proposta de Langevin-Wallon
Segundo Wallon, a educação por ciclo se justifica, pelo fato de que a educação deve ser adaptada ao homem e não aos interesses particulares ou transitórios da economia, da política, nacional ou internacional, das ideologias, nacionalidades ou culturas, como na verdade a educação atual ocorre.
Wallon surge então com uma proposta que é a divisão em ciclos, mas ele deixa claro que tal proposta não tem uma argumentação em favor de aumento da aprendizagem, mas sim de uma re-significação do processo de aprender.
A fundamentação teórica: a teoria histórico-cultural do desenvolvimento a dialética entre organismo e cultura.
A proposta de ciclos de formação está ligada a concepção de aprendizagem e desenvolvimento elaborada pela teoria cultural-histórica do desenvolvimento humano. Devendo no entanto, conhecer as funções psicológicas que para Vigostki, tais funções são: memória, atenção volitiva, percepção, imaginação e pensamento.
Wallon ainda explica algumas formas de atividades específicas, como atividade de estudo, ou seja, o ser humano depende da realização de atividades próprias para a construção do conhecimento formal, e as quais dependem da mediação de um professor.
Implicações de ciclos de formação
A autora deste livro, traz algumas implicações de ciclos de formação, as quais conheceremos e descrevemos a seguir:
Gestão
Na perspectiva do ciclo de formação é fundamental, pois é através do gerenciamento que o tempo e o espaço na escola são definidos.  O diretor deve ter como prioridade em seu trabalho, a concentralização das condições necessárias para o desenvolvimento humano e todas as aprendizagens que os alunos necessitam realizar.
Currículo
Antes de se definir um conceito do que é o currículo, é necessário definir qual o objetivo da ação que se desenrola dentro da escola e que papel ela tem no seu desenvolvimento do indivíduo como ser humano e côo ator social.  Portanto, o currículo está sempre inserido em um projeto-político-educacional mais amplo.
O currículo deve ser elaborado de acordo com a concepção de ser humano em desenvolvimento. De acordo com Lima, ela enfatiza o fato da escola poder falsear este desenvolvimento, que até é bem comum em nossos dias este tipo de ação contra o educando, de impedi-lo a conviver com ele ou, deliberadamente promove-lo. Pode-se então dizer e concordar com o que a autora descreve que a definição de currículo está atrelada a concepção de cidadão e de indivíduo sócio-cultural  que é subjacente à política educacional.
Avaliação
Quando tratamos do tema avaliação, temos em mente que a escola avalia seu aluno, pois se torna parte constituitiva do processo de formação e desenvolvimento do mesmo. Assume um papel ligado ao currículo, uma vez que os princípios adotados na avaliação definem a própria relação com o conhecimento.
Na educação por ciclos, a aprendizagem é vista como processual, que se efetiva em tempos diversos para cada indivíduo. Nesta perspectiva, contribui na definição do encaminhamento do currículo e faz parte, indiretamente, do planejamento pedagógico das formas de atividade pelas quais se pretende desenvolver o currículo.
Continuidade Educativa
No processo do ciclo de formação notamos uma diferença bem interessante para o desempenho do aluno. A partir desse ciclo não se passa o aluno de uma série a outra e sim o seu desenvolvimento ocorre por meios de ações que buscam a integração no processo educativo.
Na visão de aluno, terá a possibilidade de desenvolvimento crescente da complexidade dos conceitos e da apropriação progressiva do método.
Formação de coletivos
Na formação de coletivos, ou também chamado trabalho em equipe, ocorre o seguinte processo, de acordo com Lima:
 (...) é a modificação das relações profissionais entre os professores, uma vez que eles irão compartilhar o mesmo aluno durante o ciclo. (LIMA,p.27,1998).
Diferente do que ocorre no ensino tradicional, onde o aluno não terá sempre o mesmo professor durante todas as séries. Já na formação de ciclos como citado acima o aluno tem o professor durante todo o processo. Isto se faz importante, pois o trabalho que este educador pode realizar será fundamental na construção do conhecimento e desenvolvimento do educando.
Formação do Educador
Por fim, para que este ciclo de formação, uma proposta que Lima, apresenta para a reformulação do tempo e espaço na escola, é necessário que os profissionais também estejam preparados para se aliar a esta proposta.
Não tem como trabalhar neste ciclo sem antes se capacitar para desenvolver seu trabalho, pois, mesmo quando se entra em um novo plano, fica sempre alguns resquícios anteriores trabalhados. Lima coloca de forma objetiva esta questão:
Não podemos esquecer, aqui, que a redefinição da atividade do professor é um processo e que, portanto, não ocorre da noite para o dia. De fato, temos visto que, nos momentos iniciais da implantação de ciclos, as práticas pedagógicas mantêm-se, em geral, as mesmas ou muito semelhantes às práticas anteriores, principalmente a avaliação. (LIMA,p.28,1998).
É importante lembrar, que não se pode descartar a formação pedagógica do educador, mas deve levar em consideração que o mesmo deve ter uma postura diferente do que a que ele praticava anteriormente para que se obtenha o resultado esperado que é o desenvolvimento e oportunizar aprendizagem de qualidade ao aluno.
Referência Bibliográfica:           
HORA, Dinair Leal da. Gestão Democrática na escola. 10ª ed. Papirus. São Paulo. 2002.
LIMA, Elvira Souza. Ciclos de formação: uma reorganização do tempo escolar. São Paulo. S107.1998.
MEZOMO, João Catarin. Educação e Qualidade Total A Escola volta às aulas. 2ª ed. Vozes. Petrópolis. 1999.
Autora: Keren Prado Dos Anjos pedagoga, atua no ensino fundamental e como instrutora do Senac em Campo Mourão -PR

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