A teoria da aprendizagem significativa – tas
Autor: Ronny Machado de Moraes
| |||||
A idéia fundamental da teoria de Ausubel é a de que a aprendizagem significativa é um processo em que as novas informações ou os novos conhecimentos estejam relacionados com um aspecto relevante, existente na estrutura de conhecimentos de cada indivíduo (NOVAK, 2000, p. 51). Em sua teoria, Ausubel (1963, 1968, 1978, 1980) investiga e descreve o processo de cognição segundo uma perspectiva construtivista. Essa teoria ficou conhecida como Teoria da Aprendizagem Verbal Significativa, por privilegiar o papel da linguagem verbal. Foi o próprio psicólogo que optou por renomeá-la de Teoria da Aprendizagem Significativa – TAS. O princípio norteador da teoria de Ausubel baseia-se na idéia de que, para que ocorra a aprendizagem, é necessário partir daquilo que o aluno já sabe. Ausubel preconiza que os professores/educadores devem criar situações didáticas com a finalidade de descobrir esses conhecimentos, que foram designados por ele mesmo como conhecimentos prévios. Os conhecimentos prévios seriam os suportes em que o novo conhecimento se apoiaria. Esse processo, ele próprio designou de ancoragem. Essa idéia foi expressa pelo pesquisador na seguinte frase: “o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Averigúe isso e ensine-o de acordo” (AUSUBEL, 1980). Essa teoria procura elucidar os mecanismos internos que ocorrem na estrutura cognitiva humana em relação ao processo de aprendizagem. Embora já tenha sido classificada como uma teoria “condutivista”, a TAS focaliza e entende a aprendizagem de modo cognitivista e procura explicar também como os conhecimentos estão estruturados na mente humana*. O foco principal de suas pesquisas foi a aprendizagem escolar. Por esse motivo, acreditamos que as suas idéias sobre a aprendizagem podem contribuir para melhorar o processo de ensino–aprendizagem escolar. Ausubel propõe, portanto, uma teoria que enfatiza a aprendizagem que ocorre na escola. Sua teoria baseia-se na premissa de que a mente humana possui uma estrutura organizada e hierarquizada de conhecimentos. Essa estrutura é continuamente diferenciada pela assimilação de novos conceitos, novas proposições e idéias. A TAS, por enfatizar os conceitos e preocupar-se essencialmente com eles, com os conteúdos acadêmicos, com os aspectos cognitivos da aprendizagem, enfim, tem sido vista como intelectualista e criticada por não valorizar as outras dimensões da aprendizagem. Coube a Novak (1978, 1980, 1983, 1998) desenvolver, refinar e divulgar os pressupostos da TAS e acrescentar os aspectos que são de domínio afetivo, dando um caráter mais humanista à teoria de Ausubel, ao considerar que “a aprendizagem significativa subjaz à integração construtiva entre pensamento, sentimento e ação, que conduz ao engrandecimento humano” (ibidem, 1998, p. 15). Para ele, as atitudes e os sentimentos positivos em relação à experiência educativa têm suas raízes na aprendizagem significativa e, por sua vez, a facilitam. A aprendizagem significativa caracteriza-se pela interação de uma informação com um aspecto relevante da estrutura cognitiva do sujeito, não com qualquer aspecto. Uma informação é aprendida de forma significativa quando se relaciona a outras idéias, outros conceitos ou outras proposiçõesrelevantes e inclusivos que estejam claros e disponíveis na mente do indivíduo de modo que funcionem como âncoras. A proposição de uma hierarquia na organização cognitiva do indivíduo é de suma importância quando se trata da aprendizagem de conceitos científicos, uma vez que o conhecimento científico é constituído por uma rede de conceitos e proposições, formando uma verdadeira teia de relações. Quando uma informação não é aprendida de forma significativa, ela é aprendida de forma mecânica. Ao contrário da aprendizagem significativa, na aprendizagem mecânica, as informações são aprendidas praticamente sem interagir com informações relevantes presentes na estrutura cognitiva. A nova informação é armazenada de maneira arbitrária e literal. * Considera-se aqui a mente humana como sua estrutura cognitiva. No entanto, Ausubel não vê oposição entre a aprendizagem mecânica e a significativa, mas as vê como um continuum. Segundo Ausubel, a aprendizagem mecânica é inevitável no caso de conceitos inteiramente novos para o aluno, mas, posteriormente, ela se transformará em significativa. Por exemplo, ao se apresentar ao aluno o conceito de célula — “unidade morfológica e fisiológica de todos os seres vivos” —, este só terá sentido na medida em que seja relacionado com alguma idéia relevante, que esteja clara e organizada na sua estrutura cognitiva; caso contrário, a princípio será armazenada de forma mecânica. O conhecimento anterior sobre a morfologia básica e a fisiologia da célula facilitará a construção do conceito célula, que pode funcionar como ancoradouro aos novos conceitos. Somente no decorrer do tempo, com a aquisição das “idéias âncoras” é que o conceito passará a ter significado para o aluno. Objetivando acelerar esse processo, Ausubel sugere a manipulação da estrutura cognitiva do aluno através do uso de organizadores prévios. O conceito e a relevância desses instrumentos serão tratados no decorrer deste texto. Novak (1980, p. 61) salienta que a aprendizagem significativa apresenta quatro grandes vantagens sobre a aprendizagem por memorização ou mecânica:
Muitas vezes, os alunos possuem essas idéias de base, mas elas não estão ativadas. Caberia, então, ao professor descobrir esses conhecimentos prévios, ativá-los e, com base nisso, ensinar o novo tema. Ausubel chama as idéias que proporcionam ancoragem de subordinadores, integradores ousubsunçores. Para Moreira (1999), o subsunçor constitui um conceito, uma idéia ou uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de ancoradouro a uma nova informação, de modo que esta adquira, assim, significado para o sujeito. Novak (2000) destaca que,
Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa pode ocorrer por recepção ou por descoberta. Na aprendizagem receptiva, a informação é apresentada ao aluno em sua forma final; já na aprendizagem por descoberta, o conteúdo a ser aprendido necessita ser descoberto pelo aluno. A aprendizagem por descoberta pressupõe que o próprio indivíduo descubra o conhecimento dependendo de seus próprios recursos. Ausubel considera que a relação custo–benefício desse tipo de empreendimento é pouco considerável. Para Ausubel,
Ele destaca ainda que, se o aluno tivesse de descobrir o conhecimento o tempo todo, não haveria tempo suficiente para isso no decorrer de sua vida escolar e haveria um alto custo na implementação de situações para que isso ocorresse. No entanto, em alguns momentos é possível recorrer a esse tipo de aprendizagem como apoio didático para determinadas aprendizagens. As aprendizagens por descoberta ou por recepção podem ou não ser significativas. Moreira (ibidem, p. 17) destaca que pode ocorrer uma superposição entre os conteúdos aprendidos por recepção e por descoberta, uma vez que aqueles aprendidos por recepção são utilizados na descoberta de soluções de problemas. Ausubel considera que as aprendizagens por recepção e por descoberta situam-se ao longo de umcontinuum de aprendizagens significativa e mecânica. Isso pode ser observado nas figuras 1 e 2. Nesse sentido é que Ausubel não vê uma relação direta entre a aprendizagem por recepção e a mecânica, ou seja, para ele, a aula expositiva não gera necessariamente uma aprendizagem mecânica, assim como a aprendizagem por descoberta não gerará sempre aprendizagem significativa. Existem, no entanto, diversas formas de combinação desses elementos, de tal maneira que podemos ter aprendizagem por recepção (aula expositiva) e aprendizagem significativa. A mesma coisa acontece em relação à aprendizagem por descoberta (aprendizagem dirigida, induzida por problemas), que pode gerar aprendizagem mecânica se se restringir apenas à aplicação de fórmulas. Para ele, o máximo da aprendizagem significativa seria aquela que se situa no extremo dos dois contínuos, ou seja, aquela que resulta, por exemplo, da pesquisa científica, que advém da combinação entre aprendizagem por descoberta autônoma e aprendizagem significativa. Ausubel lembra que a escola ainda hoje privilegia as aulas expositivas, apesar de todas as críticas a elas endereçadas. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de ocorrência de aprendizagem significativa dentro dessa perspectiva, desde que sejam obedecidos alguns pressupostos como, por exemplo, a identificação de conhecimentos relevantes que sirvam de âncoras à nova aprendizagem, na mente do aluno. Para Ausubel, a aprendizagem receptiva-significativa é importante para a educação porque é o mecanismo humano, por excelência, de aquisição e armazenamento de uma vasta quantidade de idéias e informações representadas por algum campo de conhecimento (ibidem, p. 33). Ausubel (ibidem, p. 35) ainda considera que a aprendizagem receptiva-significativa é um processo ativo, mas requer uma análise dos conhecimentos prévios existentes, a fim de avaliar (1) quais são os aspectos da estrutura cognitiva do sujeito que são os mais relevantes para que o novo material — potencialmente significativo — possa interagir; (2) qual o grau de harmonia entre as idéias existentes na estrutura cognitiva — ou seja, a apreensão de idéias de mesma natureza ou que apresentem diferenças e a resolução de problemas em que haja contradições reais ou aparentes entre aqueles conceitos e proposições novos e os já estabelecidos; (3) a diferenciação do material aprendido em termos da experiência pessoal de cada indivíduo. Trata-se de proporcionar ao aluno situações que sejam potencialmente problemáticas e desequili-bradoras, mas que estejam dentro das possibilidades de resolução do aluno. Ausubel considera que, à medida que a aprendizagem significativa ocorre, mais e mais aparecem conceitos integradores. Esse aperfeiçoamento dos significados conceituais ocorre melhor quando se introduzem primeiro os conceitos mais gerais e inclusivos e depois se diferenciam, progressivamente, esses conceitos em termos de pormenores e especificidades (NOVAK, 2000, p. 63). Acredita-se que é através da aprendizagem significativa que as novas idéias aprendidas ficarão por mais tempo disponíveis na estrutura cognitiva do aluno. Sem receio de ser redundante, aprender de forma significativa nada mais é do que aprender com sentido, ou com significado; esse tipo de aprendizagem permite a evocação das idéias aprendidas quando elas se fizerem necessárias, devido ao fato de serem mais estáveis e disponíveis na mente do sujeito. Para Ausubel, é no decurso da aprendizagem significativa que o significado lógico do material apresentado ao sujeito passa a ter significado psicológico. O significado psicológico tem a característica de idiossincrasia, uma vez que é próprio de cada sujeito aprendente. O significado que o sujeito dá ao material aprendido tem a marca do próprio sujeito. Não basta que o material a ser apresentado ao sujeito seja significativo (a maioria dos materiais escolares o são), mas é necessário que o sujeito tenha os subsunçores necessários para “pendurar” os novos conceitos aprendidos. Muito embora a aprendizagem seja idiossin-crática, numa determinada cultura, os diferentes membros compartilham muitos conceitos e muitas proposições que são similares, permitindo a compreensão e a comunicação interpessoal. Assim, existem muitos conhecimentos que são compartilhados pelo grupo social. 1 Condições básicas para que ocorra a aprendizagem significativa, segundo David Aubusel
** Segundo Moreira (1990, p. 7), Gowin propôs esse “V” como um instrumento heurístico para análise da estrutura do processo de produção de conhecimento ou para identificar sistematicamente conhecimentos documentados sob a forma de artigos de pesquisa, livros, ensaios, a fim de tornar esses conhecimentos adequados para propósitos instrucionais. 2 Tipos de aprendizagem significativa Segundo Ausubel (ibidem, p. 39–40), os seres humanos são capazes de aprender de forma significativa, relacionando conceitos, idéias e proposições a idéias claras e disponíveis na estrutura cognitiva. Para ele, essas novas idéias são subsumidas, modificando, por sua vez, as idéias que deram suporte ou funcionaram como âncora. Através desse processo, novos subsunçores, com capacidade de ancoragem para novas idéias, vão se desenvolvendo. Esse tipo de aprendizagem, como já foi visto anteriormente, tem como característica básica a possibilidade de ser evocada com maior facilidade pelo indivíduo, sendo, portanto, mais duradoura. Para Ausubel (ibidem, p. 39), há três tipos de aprendizagem significativa: a aprendizagem representacional, a aprendizagem conceitual e a aprendizagem proposicional. 2.1 A aprendizagem representacional Refere-se ao significado de palavras e símbolos unitários. Esse tipo de aprendizagem constitui o tipo básico de aprendizagem da espécie humana. O indivíduo relaciona o objeto ao símbolo que o representa. Esses símbolos são convencionais e permitem ao indivíduo conhecer e organizar o mundo exterior e interior. Nesse caso, nomear, classificar e definir funções constituem exemplos de aprendizagem representacional. Ausubel considera que esse tipo é o que mais se aproxima da aprendizagem mecânica ou automática. 2.2 A aprendizagem conceitual Para Ausubel, os conceitos representam unidades genéricas ou idéias categóricas e são representados por símbolos particulares. A aprendizagem representacional é o ponto de partida para a aprendizagem conceitual, e pode-se afirmar que esses dois tipos de aprendizagem são interdependentes. Os conceitos representam regularidades em eventos, situações ou propriedades e possuem atributos essenciais comuns que são designados por algum signo ou símbolo. Cabe ressaltar que o sujeito pode aprender o símbolo do conceito antes do conceito propriamente dito ou, então, o contrário. Aprende-se, por exemplo, o conceito de bola e associa-se ao seu objeto, como se pode também aprender o conceito de planta ou animal e a regularidade observada em vários animais que se conhece. Para que não se confunda, a aprendizagem conceitual é um tipo complexo de aprendizagem representacional. Ela pode ser significativa a partir do momento que for substantiva e não-arbitrária, ao contrário de quando é apenas nominalista ou simplesmente representacional de um determinado objeto. 2.3 A aprendizagem proposicional Refere-se aos significados expressos por grupos de palavras combinadas em proposições ou sentenças. Ausubel destaca que, ao se aprender o significado de uma proposição verbal, por exemplo, aprendemos primeiramente o significado de cada um dos termos componentes. Esse tipo de aprendizagem pode atingir formas mais complexas de aprendizagem significativa. Nesse caso, a tarefa é aprender o significado que está além da soma dos significados das palavras e dos conceitos que compõem a proposição. Ausubel considera que a aprendizagem significativa proposicional é mais complexa do que as aprendizagens representacional e conceitual, no sentido de que as representações e os conceitos podem constituir os subsunçores para a formação de proposições. Uma proposição potencialmente significativa para o sujeito, expressa verbalmente por uma sentença, contendo tanto os significados denotativos quanto os conotativos dos conceitos envolvidos, interage com idéias relevantes, estabelecidas na estrutura cognitiva e, dessa interação, surgem os significados da nova proposição. 3 Organizador Prévio (OP) e o princípio de diferenciação progressiva Ausubel (ibidem, p. 71) propôs o uso de instrumentos que ele mesmo denominou de Organizadores Prévios ou Antecipatórios quando o sujeito não dispõe de subsunçores que ancorem novas aprendizagens ou quando for constatado que os subsunçores existentes em sua estrutura cognitiva não são suficientemente claros e estáveis para desempenhar as funções de ancoragem do novo conhecimento. Esses instrumentos também podem servir como ativadores de subsunçores que não estavam sendo usados pelo indivíduo, mas que estão presentes na estrutura cognitiva. O OP constitui um instrumento (textos, trechos de filmes, esquemas, desenhos, fotos, pequenas frases afirmativas, perguntas, apresentações em computador, mapas conceituais, etc.) que é apresentado ao aluno, em primeiro lugar, num nível de maior abrangência, que permita a integração dos novos conceitos aprendidos. Um organizador prévio prescinde de nível de inclusividade e abrangência sobre o conteúdo que será posteriormente apresentado. A principal função do OP é preencher o espaço entre aquilo que o aprendiz já conhece e o que precisa conhecer. Ausubel (ibidem, p. 144) propõe a manipulação deliberada da estrutura cognitiva do sujeito através do uso de Organizadores Prévios com a finalidade de prover idéias de esteio ou subsunçores, de modo a favorecer a aprendizagem significativa. Os organizadores prévios podem constituir importantes instrumentos de contextualização sociocultural, uma vez que criam referentes para o conteúdo. Ausubel considera que as funções básicas de um OP são:
Moreira (1982, p. 42) evidencia que um OP deve apresentar não só a possibilidade de diferenciação progressiva como também a reconciliação integradora, princípio que se leva em conta quando se explora explicitamente as relações entre idéias, proposições e conceitos, apontando similaridades e diferenças significantes e reconciliando inconsistências reais e aparentes. A vantagem do uso de um Organizador Prévio é que o aluno pode se aproveitar de uma visão geral do conteúdo antes que se possa dissecá-lo em seus elementos constitutivos. Ausubel considera que os Organizadores poderiam facilitar a aprendizagem factual mais que a de materiais abstratos, que, segundo ele, já conteriam seus próprios organizadores. Destacam-se dois tipos principais de Organizadores Prévios: o expositivo e o comparativo. Essas duas classes de organizadores contemplariam os dois principais aspectos relacionados à aprendizagem escolar; a aprendizagem que decorre da relação tradicional professor–aluno mediada pela linguagem e aquela que privilegia um importante aspecto da aprendizagem humana — a aprendizagem através da comparação. 3.1 Organizadores Expositivos O Organizador Expositivo deve ser utilizado quando o aluno não dispõe de idéias relevantes sobre um tópico específico, ou seja, quando o aluno está aprendendo um novo assunto. Ausubel (ibidem, p. 144) propõe o uso de um organizador do tipo expositivo quando se tratar de um tema desconhecido para os alunos. Esses organizadores teriam uma relação de superordenação com o novo conhecimento a ser aprendido. É o caso, por exemplo, de um texto jornalístico que serviria como “introdução” ao tema. Esse texto seria apresentado num nível maior de abrangência. A vantagem do uso de um OP é que o aprendiz pode ser favorecido poruma visão geral do conteúdo, antes do detalhamento dos seus elementos constitutivos. Quando o aluno está estudando o processo de divisão celular, por exemplo, os conceitos relativos à teoria celular e à morfofisiologia da célula devem estar disponíveis e evidenciados naquele momento. Caso isso não ocorra, o professor pode, por exemplo, recorrer a um texto em que o assunto seja tratado de modo mais abrangente, permitindo, com isso, a inclusividade das novas idéias sobre a divisão da célula que ocorrerá por subordinação. Esse texto poderia versar sobre a relação entre divisão celular e o crescimento dos seres pluricelulares, bem como a diferenciação da célula a partir de células-tronco presentes no embrião. Dessa maneira, os Organizadores Prévios teriam a função de prover um arcabouço de conhecimentos para sustentar a nova aprendizagem, servindo como elementos de contextualização. 3.2 Organizadores Comparativos Caso o conteúdo seja familiar ao aluno, o uso de organizadores comparativos pode ser eficiente no propósito de integrar os novos conceitos ou proposições com os conceitos similares presentes na mente do sujeito ou então poderão aumentar a discriminalidade entre as idéias novas e as existentes, que são essencialmente diferentes, mas que podem causar alguma confusão. Esses OPs serão utilizados quando o aluno dispuser de idéias claras e disponíveis sobre o assunto a ser tratado; nesse sentido, o Organizador Prévio tem a função de ressaltar as semelhanças e diferenças que existem entre o conteúdo a ser aprendido e aquele que está disponível na mente do aluno. Os organizadores prévios funcionam como agentes facilitadores da aprendizagem, criando uma “ponte cognitiva” entre o que o aluno já sabe e aquilo que ele precisa saber. Segundo os princípios ausubelianos, os OPs devem situar-se num nível mais elevado de abstração e generalidade da matéria de ensino, de modo a permitir o maior grau possível de inclusividade, e devem ser apresentados antes do conteúdo propriamente dito. Desse modo, esses instrumentos também são denominados, pelo próprio Ausubel, de Organizadores Antecipatórios. A escolha de um Organizador Prévio requer um feeling por parte do professor, de modo que apresente as seguintes características:
Segundo Ausubel, dependendo da natureza do material a ser aprendido e da estrutura cognitiva do aprendiz, a aprendizagem pode se dar por subordinação correlativa ou derivativa, superordenada ou combinatória (ibidem, p. 141). 5 O processo de assimilação e a aprendizagem subordinativa No processo de subordinação, a assimilação se dá quando uma idéia, um conceito ou uma proposição que sejam potencialmente significativos são assimilados por um subsunçor mais inclusivo existente na estrutura cognitiva do sujeito, como um exemplo, uma extensão, elaboração ou qualificação do mesmo (MOREIRA, 1999, p. 24–25). Para Ausubel, portanto, as proposições podem ser aprendidas e retidas por mais tempo; além disso, uma vez que a organização hierárquica da estrutura cognitiva é, por si só, ilustrativa do princípio subordinativo, parece razoável supor que o modo subordinativo da aprendizagem significativa deve ser utilizado sempre que possível. Nesse sentido, é lícito supor que, na aprendizagem escolar, seja enfatizada a aprendizagem subordinativa, tendo em vista a aprendizagem significativa. No processo de aprendizagem por subordinação, a nova idéia, o novo conceito ou a nova proposição, ao serem assimilados, modificam também a idéia de esteio já existente, como ilustra o esquema abaixo***. (1999, p. 24). O produto interacional A’a’ é dinâmico, podendo sofrer modificações no decorrer do tempo. Ausubel considera que, por algum tempo, o produto interacional A’a’ é passível de dissociação em A’ e a’, favorecendo assim a retenção de a’. No entanto, no decorrer do tempo, as novas idéias tendem a ser esquecidas, sendo assimiladas pelos subsunçores. Ele denominou obliteração esse processo em que a nova idéia torna-se menos dissociável na estrutura cognitiva, até que não seja mais possível evocá-la de modo isolado. Essas idéias são, portanto, assimiladas e reduzidas com o passar do tempo. O processo é complexo, visto que a nova informação também pode relacionar-se com outros subsunçores. Após a fase de obliteração, A’a’ reduz-se a A’, e isso caracterizaria o esquecimento. A idéia representada por a’ dificilmente poderá ser evocada da mesma maneira que foi assimilada. A aprendizagem subordinada pode ocorrer de duas maneiras: por derivação e por correlação. Pela aprendizagem derivativa, o novo material é assimilado como um exemplo específico de um conceito previamente estabelecido na mente do sujeito ou então, de alguma maneira, ilustra uma proposição mais geral. Nesse caso, o novo material tende a sofrer os efeitos da obliteração. Quando o conceito básico de mamífero está disponível e claro na estrutura cognitiva do aluno, fica mais fácil apreender, por derivação, que baleia e morcego pertencem ao mesmo grupo. É mais fácil aprender por derivação, desde que o conceito subsunçor esteja claro, disponível e estável na estrutura cognitiva do sujeito. No entanto, torna-se também mais fácil o esquecimento do novo material, subsumido pela estrutura cognitiva que tende a se reduzir a um menor denominador. O processo usual de aprendizagem de novos conceitos se dá através da aprendizagem correlativa, que é quando uma nova idéia é um exemplo que contribui para aumentar o significado de uma idéia mais ampla já sabida. Por exemplo, ao se aprender o conceito mamífero como aquele animal que possui glândulas mamárias, pêlos, é homeotérmico, etc., fica mais fácil acrescentar a idéia de que baleias e morcegos pertencem ao mesmo grupo. 5.1 Aprendizagem superordenada Conforme a Teoria da Aprendizagem Significativa, segundo Ausubel (ibidem, p. 49), uma nova aprendizagem apresenta uma relação superordenada para a estrutura cognitiva do sujeito quando se aprende uma nova proposição inclusiva (mais geral) que organizará o surgimento de várias outras idéias. Ausubel destaca que a aquisição de significado superordenado ocorre mais comumente na aprendizagem conceitual do que na proposicional. Um exemplo é quando o aluno aprende os conceitos de cão, gato, leão, baleia e morcego e percebe que eles podem ser agrupados sob um termo novo —mamíferos. 5.2 Aprendizagem combinatória Diferentemente do que ocorre na aprendizagem subordinada e na aprendizagem superordenada, no caso da aprendizagem combinatória as proposições não são relacionáveis a idéias relevantes particulares de uma estrutura ideacional. Nesse sentido, pelo menos inicialmente, são mais difíceis de serem aprendidas e evocadas pelo sujeito. Ausubel (ibidem, p. 50–51) destaca que a maioria das generalizações que os alunos aprendem em Ciências, Matemática e Ciências Humanas constituem exemplos de aprendizado combinatório. Destacamos aqui a relação entre estrutura genética e variabilidade e genótipo versus fenótipo. Embora seja adquirida com maior esforço pelo aluno, esse tipo de aprendizagem pode ter a mesma estabilidade das aprendizagens subordinativa e superordenada. 6 Os Mapas Conceituais (MCs) A técnica de mapeamento conceitual foi desenvolvida pelo Prof. Joseph D. Novak, na Universidade de Cornell, em 1960. Novak fundamentou seu trabalho com mapas conceituais na Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel. Para Novak, a aprendizagem significativa envolve a assimilação de novos conceitos e proposição em estruturas cognitivas existentes. A utilização desse instrumento favorece a aprendizagem significativa, na medida em que enfatiza o sentido de unidade, a articulação, subordinação e hierarquização dos conhecimentos sobre determinado tema, possibilitando, assim, a visão integrada e compreensiva dos diversos saberes disciplinares, bem como das suas inter-relações. A construção de mapas conceituais valoriza, sobremaneira, o processo de construção e reestruturação do conhecimento pelo próprio sujeito. Esse instrumento encontra-se no grupo de propostas de cunho construtivista, visto que favorece a atividade do aluno na elaboração e integração de seus conhecimentos. Dependendo da maneira como esse instrumento é utilizado, ele pode favorecer a relação professor–aluno e a relação aluno–aluno, uma vez que, para sua construção, é necessário que o conhecimento seja partilhado. A utilização de mapas conceituais no processo ensino–aprendizagem visa fundir de forma mutualística o modelo didático proposto pelo socioconstrutivismo. Isso porque favorece a troca de conhecimentos entre o grupo e o construtivista-cognitivo, já que propicia a ação do aprendiz sobre o conhecimento, visando a sua reconstrução. Os MCs construídos por determinados grupos consistem em conhecimentos partilhados, advindos de situações de conflitos e de discussões. A aprendizagem é, portanto, construída coletivamente, através de consenso. A abordagem dos MCs está fundamentada na Teoria Construtivista, entendendo que o indivíduo constrói seu conhecimento e seus significados a partir da sua predisposição para realizar essa construção, que serve como instrumento para facilitar o aprendizado do conteúdo sistematizado em conteúdo significativo para o aprendiz. O MC constitui um código de representação cognitiva de cada sujeito, ou grupos de sujeitos. Exige, para a sua decodificação, que o emissor e o receptor partilhem de conhecimentos mínimos sobre a sua forma e semântica utilizada. Por se tratar de um procedimento essencialmente cognitivista, os mapas conceituais são indicados para evidenciar as relações entre os conceitos-chave, conforme são entendidas pelos sujeitos de um determinado conteúdo de ensino e que aparece em uma determinada unidade didática. Esses instrumentos prestam-se fundamentalmente à organização, estruturação e hierarquização de conteúdos que sejam essencialmente conceituais (como é o caso dos conteúdos da Biologia). Analisando-se de forma objetiva, os MCs constituem representações gráficas semelhantes a diagramas que indicam relações entre conceitos ligados por palavras (como é visto no exemplo a seguir) e representam uma estrutura que vai desde os conceitos mais abrangentes até os menos inclusivos. Em sua essência, os MCs dispõem as representações gráficas de conceitos em um domínio específico de conhecimento, construídas de tal forma que as interações entre os conceitos sejam evidenciadas. Como recursos para o ensino e a aprendizagem, os mapas conceituais servem para tornar claro aos professores e alunos as relações entre os conceitos de um conteúdo, aos quais deve ser dada maior ênfase (NOVAK, 1996, p. 33). Os mapas podem tornar-se muito complexos e requerer um bom tempo e muita atenção para sua construção, mas são úteis na organização, aprendizagem e demonstração do que se sabe acerca de algum tema particular. Destaca-se a existência, no mercado, de diversos softwares**** utilizados como ferramentas que facilitam a construção de mapas conceituais. Novak (1998) destaca que os MCs podem ser vistos como recursos auxiliares para a aprendizagem (aluno) tanto quanto para o ensino (professor). Como uma ferramenta de aprendizagem, o Mapa Conceitual é útil para o aluno, por exemplo:
seguintes endereços: www.inspiration.com e www.cmaptool.com. Para os professores, os MCs podem constituir-se importantes auxiliares em suas atividades rotineiras, tais como:
A construção dos MCs não precisa obedecer a esse princípio o tempo todo, mas é evidente que, no ensino de ciências, a diferenciação progressiva dos conceitos em subconceitos, até atingir os exemplos, constitui a organização habitual dos conteúdos das disciplinas. Acredita-se que o processo de construção de MC favorece a aprendizagem significativa, na medida em que enfatiza o sentido de unidade, articulação, subordinação e hierarquização dos saberes disciplinares, possibilitando, assim, a visão integrada e compreensiva dos diversos conteúdos das disciplinas, bem como as suas relações. Esses instrumentos constituem recursos que permitem a integração de novos conceitos aos conceitos que já existem na estrutura cognitiva do aprendiz. Do ponto de vista ausubeliano, o desenvolvimento de conceitos ocorre da melhor forma quando os elementos mais gerais e inclusivos de um determinado conceito são introduzidos ao aluno em primeiro lugar, ocorrendo então sua progressiva diferenciação em termos de detalhamento e especificidade. É dessa maneira que ocorre a integração do novo conceito à estrutura cognitiva do aluno. Por exemplo, no estudo dos números de organização em ecologia, pode-se apresentá-los num primeiro momento e, a partir dessas interações, conhecer cada organismo em particular. Além de facilitarem o processo de diferenciação progressiva, os mapas conceituais podem contribuir para o processo de reconciliação integrativa, uma vez que o aluno pode ler os mapas conceituais de baixo para cima. Esse processo de leitura dos mapas conceituais de baixo para cima constitui a reconciliação integradora. Em relação ao processo de reconciliação integrativa, Novak (1982) argumenta: A reconciliação integrativa mais eficaz ocorre ao organizar-se o ensino “descendo e subindo” nas estruturas conceituais hierárquicas, à medida que a nova informação é apresentada. Isto é, começa-se com os conceitos mais gerais, mas é preciso ilustrar logo de que modo os conceitos subordinados estão a eles relacionados e então voltar, através de exemplos, a novos significados para os conceitos de ordem mais alta na hierarquia (NOVAK apud MOREIRA, 1982, p. 39). Considera-se que, os MCs, ao promoverem a reconciliação integrativa dos conceitos, podem contribuir para melhorar a qualidade das hierarquias conceituais do aluno. A reconciliação integrativa ocorre quando o sujeito passa a integrar, de forma significativa, os diversos conceitos presentes num determinado mapa conceitual. 7 Novas contribuições à Teoria da Aprendizagem Significativa O modelo de transmissão e aquisição conceitual, largamente utilizado no ensino de Biologia, baseado na transmissibilidade de conceitos — quer através de aulas expositivas, quer de experiências demonstrativas, quer da leitura de textos informativos —, não tem apresentado resultados satisfatórios. Essas aquisições conceituais baseiam-se na idéia simplista de que a aprendizagem se dá pelo acréscimo de conceitos à estrutura cognitiva do aluno, não conseguindo, portanto, romper com os conhecimentos espontâneos já estabelecidos. Nesse sentido é que emergem as idéias de mudança conceitual, campo conceitual, preconcepções ou conceitos espontâneos. Santos (1992) considera que a aprendizagem por transmissão constitui um paradigma da pedagogia que está em crise: Neste modelo, presume-se que o professor pode transmitir idéias pensadas por si próprio ou por outros (conteúdo) ao aluno, que as armazena seqüencialmente no seu cérebro (receptáculo). Ou seja, o professor “dá a lição”, imprime-a em arquivadores de conhecimento e pede, em troca, que os alunos usem a sua atividade mental para acumular, armazenar e reproduzir informações (SANTOS, 1992, p. 13). Nesse sentido, o aparecimento de uma nova teoria baseada no modelo de mudança conceitual, com perspectivas construtivistas, fundamentado na construção/reconstrução conceitual, pode estabelecer um salto qualitativo na didática das ciências, favorecendo a aprendizagem de forma significativa. Para isso, há de se levar em conta os conhecimentos que os alunos já apresentam, uma vez que considera o seguinte: É a atividade do sujeito que permite organizar (reorganizar) os conhecimentos em esquemas, cada um com sua estrutura própria. Essa atividade tem por base construções prévias não formais, pelas quais o aluno, de forma mais ou menos espontânea, inconsciente e imediata, faz representações do mundo que o cerca. Esse entendimento da atividade do aluno pressupõe, ao contrário dos modelos e da aquisição conceitual, que o processo de construção não se inicia na escola (ibidem, p. 27). Não é difícil a um professor experiente de Biologia constatar que os alunos, ao estudarem um determinado conteúdo — por exemplo, a morfofisiologia da célula —, já apresentam diversas considerações anteriores, que podem ser de ordem puramente dedutiva, portanto, pessoal e/ou familiar, e outras que são aprendizagens advindas dos meios de comunicação, além da própria escola. Esses conhecimentos prévios não podem ser negligenciados pelo professor, uma vez que podem facilitar novas aprendizagens ou se tornar obstáculos para elas. Convencionalmente, os conteúdos escolares da disciplina Biologia estão estruturados, para fins de organização didática, segundo uma gradação quanto aos níveis de complexidade, como, por exemplo, no caso da matéria viva, emmoléculas-organóides-células-tecidos-órgãos-organismo-população-comunidades-ecossistemas-biosfera. Esse tipo de organização do conteúdo é reconhecido pela maioria dos biólogos e ocorre na maior parte dos livros de Biologia, é contrário ao que preconiza a teoria ausubeliana. Para Ausubel, os conceitos mais inclusivos deveriam ser ensinados primeiro, para depois serem ensinados os conceitos a eles subordinados. A TAS possibilita romper com essa concepção, uma vez que supõe a compreensão das relações entre os elementos de uma situação ou de um fenômeno biológico. No caso do exemplo anterior, o professor deveria apresentar ao aluno, em primeiro lugar, o conteúdo mais abrangente — no caso a biosfera —, e progressivamente diferenciar os conceitos até chegar à célula e às moléculas. Dessa maneira, o aluno não perderia a visão de conjunto, e o professor poderia gradualmente chamar sua atenção para as diversas relações. Em razão disso, os alunos algumas vezes se deparam com situações de aprendizagem que envolvem um grande número de conceitos e a hierarquização dos mesmos segundo níveis de maior complexidade que, além de intricados, estão inter-relacionados. Na disciplina Biologia, o conhecimento conceitual é muito valorizado, ocorrendo em grande profusão. Muitas vezes, conceitos que parecem simples, como animal ou planta, chegam a constituir grandes redes conceituais. Giordan e Vecchi destacam que O conceito de fecundação permite agrupar aquisições sobre os diversos modos de reprodução (ovíparo, vivíparo), sobre a transmissão dos caracteres hereditários, sobre a formação das espécies... Um conceito, pois, põe em relação fenômenos que, num primeiro momento, parecem divergentes [...] (GIORDAN e VECCHI, 1996, p.183). Para que os alunos possam também transitar por determinado campo conceitual, faz-se necessário que os conceitos subjacentes a um determinado tema estejam claros, estáveis e hierarquizados na estrutura cognitiva do sujeito. Normalmente, os professores estão de acordo com o fato de que os alunos trazem para o ambiente escolar muitas concepções ou construtos, que podem servir como âncora para as novas aprendizagens ou se tornar obstáculos para elas. Esses construtos muitas vezes são aprendidos nas séries anteriores. A verificação deles pelo professor é particularmente importante antes da introdução de um determinado tema de estudo. Santos (ibidem, p. 138) destaca que esses conhecimentos, designados concepções alternativas, são altamente significativos para os alunos e, por esse motivo, difíceis de ser mudados, algumas vezes tornando-se verdadeiros obstáculos à aprendizagem de conhecimento científico. Considerando que alguns dos temas de estudo que ocorrem em Biologia, como a digestão ou afecundação, estão relacionados à aprendizagem de uma rede conceitual, que muitas vezes ultrapassa de longe os limites da própria disciplina, o professor não pode desconsiderar, no processo de ensino–aprendizagem, que ele mesmo demorou muitos anos para tornar esses conhecimentos claros e organizados em sua estrutura cognitiva. Para Giordan e Vecchi (ibidem, p.184), o professor se movimenta muito bem nessa aura conceitual, sem se questionar se os alunos são capazes de fazer o mesmo e sem considerar que as noções que ele utiliza não estão sendo integradas. Tenho notado, particularmente na minha prática pedagógica, que os alunos apresentam dificuldades na compreensão da hierarquia entre os conceitos e da subordinação das partes na composição do todo, o que resulta muitas vezes num aprendizado de memorização de conteúdos sem que se entendam as diversas relações existentes entre os mesmos. Os alunos são forçados a decorar conceitos sem que haja a sua assimilação como conhecimento significativo, visto que eles não passam pelo processo de elaboração compreensiva. Esses conhecimentos não se relacionam com conhecimentos ou experiências anteriores dos alunos e também não serão tomados como ponto de partida para o aprendizado de conhecimentos subseqüentes; por conseguinte, tendem a ser esquecidos. Considera-se que o saber conceitual se constrói lentamente, não pela aquisição ou adição de conhecimentos simplesmente, mas pela integração dos novos conceitos e das proposições à estrutura cognitiva já existente, de forma não-literal e não-arbitrária. A construção de um conceito científico ocorre de modo progressivo na estrutura cognitiva do aluno. Para Giordan e Vecchi (ibidem, p. 189), na aprendizagem de um conceito, os alunos passam por níveis de formulações cognitivas que são determinados pelo conjunto dos conhecimentos necessários para construir um enunciado. Vários são os níveis de formulação, as representações correspondem a “brotos” do futuro conhecimento. Dada a sua natureza de estabilidade e clareza na estrutura cognitiva, os conhecimentos prévios, evidenciados por Ausubel, tornam-se verdadeiras molas propulsoras para aprendizagens posteriores, no entanto, também podem tornar-se obstáculos para a mudança conceitual. Ausubel chamou de preconcepções as concepções de natureza espontânea (não- científica) presentes na mente de um indivíduo. São essas concepções que podem tornar-se barreiras para as aprendizagens posteriores. Para Santos, as preconcepções ausubelianas, denominadas apenas concepções, constituem aquelas informações que não têm estatuto de conceitos científicos, diferem significativamente destes, quer se trate de produto, quer de processo de construção, funcionando para o aluno como alternativa aos conceitos científicos correspondentes. Cachapuz (2000) destaca que essas concepções existem e ocorrem de forma inevitável no processo educativo, constituindo muitas vezes barreiras para a aprendizagem científica. Cabe ao professor sondar essas concepções e, com base nelas, organizar o seu ensino. Essas concepções espontâneas não podem ser simplesmente desconsideradas, uma vez que são altamente significativas. Para Cachapuz (2000), a aprendizagem significativa apresenta importantes limitações no que diz respeito (1) à sobrevalorização dos saberes conceituais, ficando por esclarecer aspectos essenciais relativos a outras dimensões da aprendizagem; (2) ao pressuposto de a organização hierárquica da mente humana não valer para toda e qualquer aprendizagem; (3) a não se atribuir um papel relevante para as competências cognitivas e metacognitivas do aluno; e (4) à ausência de problematização entre aprendizagem e desenvolvimento. O conceito de aprendizagem significativa ausubeliano não envolve a dimensão da construção social do conhecimento. As críticas de Cachapuz impõem alguns limites à aprendizagem significativa, uma vez que esse autor chama a atenção para alguns aspectos que são pouco considerados por esta. No entanto, não a invalidam, pois a TAS “deslocou o nosso olhar para o aluno como sujeito de aprendizagem, em particular, para os conceitos preexistentes do aluno como reguladores da sua própria aprendizagem” (Cachapuz, 2000, p. 6). Nesse sentido, evidencia-se que o processo de aprendizagem apresenta múltiplas facetas, e uma única teoria não consegue explicar todas as suas dimensões; por isso é que recorremos a outros estudiosos e teorias a fim de compreendê-la melhor. 8 Avaliação da aprendizagem significativa Novak (1998, p. 15) considera a avaliação do processo de ensino e de aprendizagem como um elemento-chave. Ele defende o uso de mapas conceituais no processo de avaliação do aluno, porém considera que esse instrumento não deve ser o único, uma vez que a aprendizagem humana é uma realidade que apresenta muitas dimensões. Para ele, o ser humano apresenta uma mescla de pensamentos, sentimentos e ações; juntos, esses elementos formariam os significados da experiência. Novak considera que uma educação bem-sucedida é aquela que leva ao engrandecimento humano e deve concentrar-se em muito mais do que o pensamento do aluno: os sentimentos e as ações também são importantes. Novak (ibidem, p. 9) concebe três formas de aprendizagem: aquisição de conhecimentos (aprendizagem cognitiva), alterações das emoções ou sentimentos (aprendizagem afetiva) e aumento das ações físicas das pessoas ou do desempenho (aprendizagem psicomotora). Novak salienta que A preocupação central em relação à avaliação da aprendizagem cognitiva deveria ser quanto à capacidade que o instrumento tem para avaliar os quadros conceituais e proposicionais que o indivíduo possui ou até que ponto o conhecimento é aprendido de forma substantiva ou não-arbitrária, que é o caso da aprendizagem significativa (ibidem, p. 182). Como foi considerado anteriormente, o processo educativo envolve um conjunto de variáveis, obedecendo a múltiplos determinantes. A avaliação da aprendizagem configura uma dessas variáveis. A avaliação constitui um dos assuntos mais polêmicos da educação. Existem várias concepções acerca de avaliação e dúvidas sobre qual será o objeto dessa avaliação: se o sujeito aluno, o grupo ou todo o processo. Zabala (1998) considera que As definições mais habituais da avaliação remetem a um todo indiferenciado, que inclui processos individuais e grupais, o aluno ou a aluna e os professores. Esse ponto de vista é plenamente justificável, já que os processos que têm lugar na aula são processos globais em que é difícil, e certamente desnecessário, separar claramente os diferentes elementos que os compõem. Nossa tradição avaliadora tem se centrado exclusivamente nos resultados obtidos pelos alunos. Assim, é conveniente dar-se conta de que, ao falar de avaliação na aula, pode-se aludir particularmente a algum dos componentes do processo de ensino/aprendizagem, como a todo o processo em sua globalidade (ZABALA, 1998, p.196). Nesse sentido, acredita-se que a utilização de mapas conceituais como um dos recursos de avaliação pode contribuir de forma eficaz para a avaliação da aprendizagem significativa. Devido ao fato de serem idiossincráticos, esses instrumentos possibilitam ao professor compreender, quase que imediatamente, como o aluno está organizando os conteúdos aprendidos e, ao mesmo tempo, sugerir novas organizações. Dessa maneira, acredita-se que esses instrumentos podem demonstrar as mudanças na compreensão conceitual de um aluno ou grupo de alunos. Não se trata aqui de sugerir que sejam abolidas as avaliações já consagradas — como, por exemplo, as provas e testes, a auto-avaliação, a avaliação através de portfólio e relatórios —, uma vez que, bem elaboradas, podem contribuir de forma satisfatória para a avaliação da aprendizagem, dada a sua multidimensionalidade. Trata-se somente de apresentar mais um instrumento que, acredita-se, se usado de forma criteriosa, pode contribuir eficazmente para o processo de avaliação. Breve Biografia DAVID PAUL AUSUBEL David Paul Ausubel nasceu nos Estados Unidos, na cidade de Nova York, no ano de 1918, filho de uma família judia e pobre de imigrantes da Europa Central. No fim do século XIX e começo do século XX, os movimentos migratórios judaicos tomaram uma nova direção, a da América. Juntavam-se, assim, aos milhões que deixavam uma Europa empobrecida e dilacerada pelos conflitos, em busca de uma nova vida. A maior parte ia para os Estados Unidos; só no período 1905–1914, 700 mil judeus chegaram [...]. Essa era, na realidade, a terceira “onda” de imigrantes judeus nos Estados Unidos. [...] É uma comunidade afluente, mas não foi afluência que os imigrantes encontraram quando chegaram a Nova York no começo desse século; no Lower East Side, o bairro em que se localizavam, 350 mil judeus comprimiam-se em velhos e dilapidados prédios, numa área de pouco mais de três quilômetros quadrados. Trabalhavam principalmente na indústria do vestuário, na época em grande expansão. Nos pequenos e confinados estabelecimentos, conhecidos como sweatshops, porque lá realmente se suava, centenas de pessoas trabalhavam até dezesseis horas por dia em troca de um pagamento miserável. Imigrantes, muitos dos quais se engajaram nos sindicatos e nos movimentos de esquerda. A escola é um cárcere para meninos. O crime de todos é a pouca idade e por isso os carcereiros lhes dão castigos. (...) Escandalizou-se com um palavrão que eu, patife de seis anos, empreguei certo dia. Com sabão de lixívia, lavou-me a boca. Submeti-me. Fiquei de pé num canto o dia inteiro, para servir de escarmento a uma classe de cinqüenta meninos assustados. Comer sabão é desagradável. Mas meus pais protestaram porque o sabão era feito de sebo cristão e não de kosher. Eu fora também obrigado a comer carne de porco: isso é crime contra a lei mosaica (p. 31). A Teoria da Aprendizagem Significativa é o oposto dessa educação reacionária e violenta. Neste viés, a construção de seus valores teóricos reforçam a participação e as experiências do aprendiz. A compreensão, no sentido amplo do conhecimento, propicia ao indivíduo a oportunidade de as vivências exteriores à sala de aula darem significado ao que é aprendido, e não simplesmente à memorização de um conteúdo sem sentido. [...] introduziram-se, em setores ainda não desenvolvidos da economia: o cinema, por exemplo, que era encarado com desprezo pelas classes altas. Os grandes estúdios foram fundados e dirigidos por judeus: Metro-Goldwyn-Mayer, Warner, Universal, Paramount e Twenty-Century Fox. O iídiche falado pelos imigrantes praticamente desapareceu; a proporção de casamentos mistos, fora da comunidade, aumenta. Isso a despeito do antijudaísmo que periodicamente reaparece na cena americana... Em outra parte do romance, vemos a comprovação desse fato. Os moralizadores da Ku Klux Klan afirmaram que o banditismo não é produto americano. Dizem que os imigrantes europeus da “classe baixa” é que o trouxeram para cá. Tolice! Nunca houve bandidos judeus na Europa. Os judeus, lá, formavam um grupo tímido e estudioso. Os judeus não mataram quem quer que fosse desde a queda de Jerusalém. Por isso, os cristãos, amantes do assassínio, chamam-nos de “povo esquisito”. A América, porem, é que ensinou os filhos dos alfaiates judeus tuberculosos a matar (p. 32). Os choques religiosos existiam no East Side: “O sacristão, que tinha cara de coruja, estava lavando, com água e sabão, no pórtico, uma imagem de Jesus talhada em madeira. — Jesus está tomando banho? — gritavam os espectadores. — Por esse pedaço de madeira, assassinaram-nos na Europa... (p.162)” A população do East Side renova-se a cada dez anos. Quando uma geração junta algum dinheiro, muda-se para um bairro melhor da cidade. Naquela época, os judeus que tinham algum dinheiro transferiam-se para o Bronx e para certas seções do Brooklyn (p. 194). Nesse instante, podemos buscar seus trabalhos com adolescentes no início dos anos 1960, quando o rock altera os costumes e caminha-se para uma maior rapidez nas informações com a TV, por exemplo. Sua crítica sobre os resumos, que remetem à compreensão parcial do que foi aprendido, leva novamente a sua preocupação com a palavra. Ausubel, por outro lado, recomenda o uso de Organizadores Prévios que sirvam de âncora para a nova aprendizagem e levem ao desenvolvimento de conceitos subsunçores que facilitem a aprendizagem subseqüente. O uso de Organizadores Prévios é uma estratégia proposta por Ausubel, para deliberadamente, manipular a estrutura cognitiva a fim de facilitar a aprendizagem significativa. Os Organizadores Prévios são materiais introdutórios apresentados antes do material a ser aprendido em si. Contrariamente a sumários que são ordinariamente apresentados no mesmo nível de certos aspectos do assunto, Organizadores são apresentados num nível mais alto de abstração, generalidade e inclusividade. Segundo o próprio Ausubel, no entanto, a principal função do Organizador Prévio é a de servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber, a fim de que o material possa ser aprendido de forma significativa. Ou seja, Organizadores Prévios são úteis para facilitar a aprendizagem na medida em que funcionam como “pontes cognitivas”. Na época em que havia os casamentos mistos e a perda do iídiche, sua teoria talvez fosse a resposta para esse universo judaico que estava em transformação. A palavra, fonte da unidade do povo hebreu, poderia dar um alento. Uma saída para a avalanche de informações visuais e de pouco significado na aprendizagem moderna. Scliar - p. 104,105 e 107 No Torá, Antigo Testamento dos cristãos, temos, no primeiro livro de Moisés, uma preocupação com a palavra. No versículo terceiro do Gênesis: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz”, vemos que, para o povo judaico, a palavra, portanto a linguagem escrita, vem para buscar a compreensão. A teoria de Ausubel reforça esse preceito hebraico. Sua teoria “vê o armazenamento de informações no cérebro humano como sendo altamente organizado, formando uma hierarquia conceitual...”. O jovem garoto judeu de família pobre aprendeu a respeitar a hierarquia da comunidade judaica. E foi através dela, com contribuição de Piaget, que construiu seus pensamentos educacionais. Sua formação acadêmica deu-se na Universidade de Nova York. Até 1997, estava vivo, em Ontário, no Canadá. (Texto enviado pelo autor) = Autor: Ronny Machado de Moraes http://gcarvajalmodelos.wordpress.com/tag/ausubel/
|
domingo, 11 de novembro de 2012
Educação: A Teoria da Aprendizagem Significativa – TAS
Assinar:
Postagens (Atom)